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quarta-feira, 6 de julho de 2011

"As muito feias que me desculpem, mas beleza é fundamental."

Já dizia meu Poeta.


Quem me vê hoje em dia com meu corpinho sarado, black power estiloso e rostinho de modelo (dizem), nem imagina o quanto eu era feia até os 20, 21 anos. Sério mesmo, feia igual bater em mãe na ceia de natal!

Não sei o que acontecia... Na infância (até uns 5 anos), me lembro de ser bem bonitinha. Tinha uma bundinha arrebitada (daquelas calcinhas cheias de rendinha atrás de antigamente), coxinhas grossas, cabelo enrroladinho e muita simpatia; afinal de contas eu desfilava no principal carro alegórico do carnaval.

Quando fiz uns 7 anos as coxinhas afinaram, perninhas grossas deram lugar a umas pernas de saracura que de longe pareciam com as pernas dos personagens do quadro Retirantes , do Cândido Portinari. Os cabelos, antes encaracoladinhos, deram lugar a uma coisa inexplicável que os meninos da escola carinhosamente chamavam de bombril, sarará, etc. E quanto mais os anos iam passando, mais feia eu ficava.

Como se não bastasse a feiura, tinha ainda a total ausência de bom senso. Eu sempre inventava de me apaixonar pelos garotos mais bonitos e inalcansáveis da até então pequena cidade de Itabira. E como já citei anteriormente, minha auto confiança é algo quase paranóico! Minha primeira ilusão amorosa se deu aos 5,6 anos. Me apaixonei por um vizinho que devia ter quase 18. Não suportando mais seguir com todo aquele amor repreendido no peito, me declarei a ele e disse que queria me casar. Ele ficou chocado com minha obsessão e nunca mais brincou comigo. E até hoje ele é um dos caras mais cobiçados da cidade... Pelo menos bom gosto eu tinha, né?

A segunda foi com um garoto também do meu bairro, mas que morava numa mansão gigantesca e vivia passeando pelas ruas com seu mini buggy e sua mini moto. Coitada de mim... Até hoje ele não deve nem saber da minha existência. Da terceira vez eu finalmente obtive êxito. Aos 12 anos fiquei com o cara mais cobiçado da escola! Hoje eu entendo porque: Ele é tão feio quanto a fome. E não consigo entender é o fato de que ele namorava a menina mais linda do Premen (que hoje não está muito bem também, coitada)....

A partir de então, foram várias paixonites galopantes que incluíram desde os príncipes que apareciam na escola e que nem conversar com eles eu tinha oportunidade, até uns tipos muito estranhos como o que soprou fumaça de cigarro na minha cara e falou:
Nós vai matá aula lá no bar da esquina, tá afim???
Graças ao bom Deus, minha amissíssima Fernanda não permitiu que eu desse continuação a esse devaneio.

Meu maior sofrimento era no dia dos namorados. Sempre faziam aqueles murais para troca de "Recadinhos do Coração" e eu sempre passava lá na esperança de ter algo para minha pessoa. Obviamente nunca ganhei nada. Até que um dia um cara de estava na escola há mil anos começou com uns gracejos pro meu lado. Minha auto estima estava nas nuvens, até uma carta toda escrita em inglês ele me enviou! Lembro que pedi a  uma vizinha mais velha traduzir pra mim e seu comentário foi o seguinte: "Deise, namora com ele! Ele está apaixonado por você!"
Eu: "Mas ele é muito feio, Ana!"
E ela, com toda a sabedoria do mundo me ensinou: "Homem feio é que é bom, porque mulher nenhuma vai querer tomá-lo de você". Eu tinha um pouco de sabedoria própria e não dei ouvidos, claro!

Dentre todos estes garotos existia um tipinho moreno, do cabelo grandinho e que era filho de uma das professoras da escola. Minha paixonite por ele durou anos mas nunca comentei com ninguém, pois já estava bem grandinha e minhas noções de razoabilidade começavam a aflorar. Eu o olhava de longe, via como era inteligente, educado e mais velho que eu uns 2 ou 3 anos. Finalmente ele formou-se no segundo grau e eu virei a vida do irmão dele, que estudava em minha sala, de cabeça pra baixo a fim de saber seu paradeiro. Tinha se mudado para Belo Horizonte e nunca mais o encontrei.

Um belo dia, há uns 3 anos atrás, fui passar um fim de semana em Itabira e precisava voltar para BH no domingo a tarde. Eis que o encontro na rodoviária: Um deus. Ele simplesmente virou um deus! Os cabelos ainda grandes, uma barba comunista super charmosa e o olhar lindo de sempre, que dessa vez olhou nos meus olhos e deixou um breve cumprimento. Confesso que gelei. E gelei ainda mais ao entrar no ônibus, pois ele não parava de olhar pra mim e eu pensando: "Gente, será que eu to cagada? Tem alguma coisa errada comigo?" E quando enfim achei minha poltrona, era ao seu lado!

Ele, educadíssimo, perguntou se o fato de ele ler um jornal me incomodaría, pois talvez eu estivesse com sono. Claro que não fiz nenhuma objeção. Percebi que ele estava muito inquieto e aquela situação estava me deixando extremamente nervosa. Então ele tirou uma barrinha de cereal da mochila e me ofereceu. Eu recusei e agradeci e então ele aproveitou para puxar conversa:

-Você é daqui de Itabira?
-Sim, sou sim.
-Engraçado, eu nunca te vi!
-Ah, eu me lembro de você...
-Não, não! Eu nunca te vi. De uma mulher linda como você eu me lembraria para o resto da vida se já tivesse visto.

Essas palavras me levaram aos céus! Fui tomada por uma espécie de felicidade extrema e estava me sentindo uma miss universo! Mas como eu sou mulher e toda mulher é bi (BI- ssexual, BI- polar ou BI- scate), minha bipolaridade me levou ao mesmo tempo ao sentimento de revolta. Afinal, foram muitos anos apaixonada por ele, observando-o todos os dias, seguindo todos os seus passos e agora que a vida tem todo um contexto diferente ele me vem com uma cantadinha barata dessas? Era um desaforo!!! E então, com muito sarcasmo dei continuidade à conversa:

-Aaaah, viu sim! Sua mãe é professora, você é irmão de fulano e estudou o segundo grau no Premen, não é?
Ele espantado: - Uai, é sim... Você estudava lá?
-Estudava, na sala de seu irmão.
-Nossa, juro mesmo que nunca te vi lá... Você é muito bonita! Eu deveria ter me lembrado...
-Pois eu vou te contar porque você não se lembra! É porque na época em que estudávamos lá, eu era bem feinha, sabe... Feia, mas feia mesmo!Com força! E um rapaz bonito e interessante como você não tem tempo de reparar nas garotas feinhas, estava sempre em companhia de belas garotas... Mas eu me lembro de você sim, já te mandei vários recadinhos do coração nos murais de dia dos namorados!

Ele sorriu muito sem graça (não sei se estava sem graça de pensar o quanto eu devia ser feia, por ter lembrado o quanto eu era feia, ou por pensar que eu no mínimo, era louca) e imediatamente parou com os gracejos malandros.

Seguimos a viagem conversando sobre várias coisas, inclusive sobre política, e ele se revelou militante do PSOL. Me convidou inclusive para ir a uma reunião do partido, aproveitando o convite para me pedir o número do meu telefone. Ali estava a oportunidade que aguardava desde a adolescência e com a qual sonhei várias vezes. Mas mais uma vez a bipolaridade falou mais alto, lembrei-me de que aquilo era um desaforo e dei o número errado.



5 comentários:

Francine Ribeiro disse...

ahahah! ótimo texto!!! como sempre! adoro o bom humor dos seus textos!
acho que eu faria o mesmo...rsrs


abraços

Luiza da Rocha Guerra disse...

Escreve um livro, preta... rs

Vai ser recorde de vendas!

Unknown disse...

kkkkkkkkkkkk... aposto que o menino do mini buggy era o Cirilo! Mas, não! Vc não era a Maria Joaquina.

Dª fulô. disse...

Me lembro de você ter me contado isso! Louca louca loca... rsrsrs O Riquinho do bairro era o kaka, né?!

Anônimo disse...

muito bomm
kkkkk