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domingo, 9 de maio de 2010

O Dia Em Que Fugi De Casa


Adolescência : A fase do desenvolvimento humano que marca a transição entre a infância e a idade adulta. Com isso essa fase caracteriza-se por alterações em diversos níveis - físico, mental e social - e representa para o indivíduo um processo de distanciamento de formas de comportamento e privilégios típicos da infância e de aquisição de características e competências que o capacitem a assumir os deveres e papéis sociais do adulto[1].
Wikipédia


Quem nunca teve o instinto fugitivo aguçado por uma desavença familiar que atire a primeira pedra. Agora, ter o instinto aguçado, bolar um plano e colocá-lo em prática já são outros quinhentos.

Experiência 1:

Uma vez, briguei com minha mãe por algum motivo que não me lembro. Devia ter uns 12 anos, e minha irmã que também se envolveu no desentendimento, uns 6. Então tive a brilhante idéia: Vamos fazer de conta que fugimos de casa! E assim o fizemos. Deixamos um bilhete na mesa da sala, juntamos nossas coisas e nos escondemos dentro do guarda - roupas dela. Lá ficamos um bom tempo, pois minha mãe não tomou conhecimento do bilhete, que o vento jogou debaixo da mesa.
Por fim, quando já estávamos quase sem ar lá dentro, feito uns jacus, sai e perguntei-a se não havia sentido nossa falta. Ela pensou que estivéssemos na vizinha, e quando eu contei a ela que estávamos no guarda -roupas escondidas, levei uma surra por ter amassado as roupas passadas.

A segunda experiência poderia ter sido trágica, se não fosse cômica.

Aos 14 anos eu morava com meu pai e minha irmã, após o divórcio dos meu pais. Acabei tendo de fazer terapia para enfrentar o trauma. A psicóloga encarregada da missão não podia ser mais louca. Como eu sempre dizia que estava tudo bem comigo e que eu não tinha nada a dizer, ela me falava em todas as sessões:
_ Deise, você não é um super - homem (?), tem que colocar o que está sentindo pra fora, tem que enfrentar tudo e não fazer de conta que nada está acontecendo.

Foram várias idas ao divã, quando resolvi seguir seu conselho.

Contrariada pelo comportamento hippie/não tô nem aí pra nada nessa vida, e resolvi ir embora. Sim, dessa vez de verdade. Deixei uma carta para o meu pai, juntei minhas coisas, coloquei numa mochila e peguei a estrada. Isso era de manhã, por volta de umas 9 horas.
Fui andando pela MG 29, que circunda Itabira. O objetivo era pegar carona com algum caminhão e sumir no mundo, mas onde estava a coragem? Continuei a saga pela estrada a fora, quando o sol e a fome já roubavam todas as minhas forças (11 da manhã). Então vi que estava perto do bairro onde morava uma tia minha, da qual eu gostava bastante e resolvi traçar um plano B. Ao invés de pegar carona na estrada e sumir no mundo passando fome e calor, eu iria para a casa da minha tia, pediria a ela para não contar ao meu pai que eu estava lá até segunda ordem e moraria com ela pra sempre. Era um plano perfeito, afinal de contas ela cozinhava muito bem e eu estava morta de fome. Andei ainda mais uma hora pela estrada, corri de um cachorro que queria me morder, até que enfim cheguei.
Toquei a campainha e tamanha foi a surpresa: Meu pai foi abrir o portão. Que vergonha... Minhas tias, primos e meu pai estavam discutindo por onde começar a me procurar, e eu, estupidamente apareci por lá.
Mas eu não podia demonstrar que não esperava aquela reunião né? Fiz uma linda cara de paisagem e recusei o almoço. Disse que estava na casa de uma amiga minha e havia almoçado por lá. Meu pai almoçando, querendo me matar, um clima horrível na casa e eu fingi que não tinha nada a ver comigo. Fiquei uns 3 dias na casa dessa minha tia e depois voltei pra casa, pois estava com saudades da minha cama.

Então me dei conta que essa história de fugir de casa só funciona em filme, né? Até hoje eu ainda morro de vergonha quando me lembro da cara do meu pai abrindo aquele portão...