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terça-feira, 29 de janeiro de 2013





Esses dias recebi uma linda mensagem da Mariana Melgaço que dizia assim:

“Me faz bem ler Deisedepequenininha. Escreve mais, vai!”

Pois bem, hoje vou contar como eu a conheci então, porque foi um episódio épico.
Depois de passar um tempo morando em Belo Horizonte, voltei à Itabira para estudar. O que foi muito difícil para mim, pois quando saí da cidade, eu era uma atleta: Não bebia, não saia e não conhecia ninguém com esses hábitos. Retornando à cidade, eu já era da turma da manguaça e não tinha nenhum amigo que me acompanhasse. Por isso mesmo, quinzenalmente eu vinha passar o fim de semana em Belori Hills com Eduardo Amaral e a Liga da Justiça (carinhoso nome da nossa turma).

Em uma dessas vindas (tenho várias histórias dessas vindas para contar), saímos no sábado (não me recordo para onde) e no domingo o Guilherme me convidou para um aniversário surpresa de sua melhor amiga. Como eu já havia gasto todas as minhas economias e teria que trabalhar na segunda de manhã, inicialmente recusei o convite, mas o Eduardo arrumou um cheque não sei de onde para pagar minha parte (cheque este que não tinha uma origem muito confiável, porque ele combinou com a organizadora da festa que o pegaria de volta e passaria o dinheiro na terça). Vendo tamanho esforço do meu amigo, me comovi e resolvi ficar para o tal evento.

Na ida passamos por dentro de uma feirinha de rua onde eu resolvi parar para comer um churrasquinho. É como se fosse um daqueles prazeres do filme O Fabuloso Destino De Amélie Poulain: Churrasquinho e cerveja! Isso me afaga a alma de um jeito, que eu fico extasiada... E o Guilherme rindo da minha cara: “É pobre demais mesmo!!!! A gente indo pra festa e ela comendo churrasquinho na feira!” O detalhe é que já era mais ou menos duas da tarde e nós não havíamos comido nada antes de sairmos de casa.
Chegando a tal festa, a organizadora estava distribuindo uma folha A4 e canetas para que os AMIGOS da Mariana deixassem uma mensagem para ela no mural. Minha vergonha começou por aí. Como eu não sabia nem de quem se tratava, escrevi só “Felicidades, Nana”! E todos já olharam estranho para aquele papel miserável entre tantas mensagens enormes no lindo mural da Mariana.

Enquanto eu passava essa vergonha, o Eduardo e o Guilherme já estavam servindo nossos copos de cerveja e procurando por comida. Qual não foi a surpresa dos dois quando viram que só havia petiscos e eles de estômago vazio. Essa foi minha vez de rir da cara deles, óbvio.

Assim passamos a tarde bem agradável (tinha muita cerveja), com pessoas bastante agradáveis também. Inclusive, uma perguntou: “Você conhece a Nana de onde?” e eu: “Não conhecia não, os meninos que me convidaram...” Então a doida começou a gritar para a festa inteira, que rapidamente se juntou no coro: “Bico! Bico! Bico” (Segunda vergonha).

A terceira vergonha veio quando meus amigos, não me lembro por qual razão, se desentenderam e saíram no tapa no meio da festa da menina que eu não conhecia e tive que separá-los (isso porque já eram umas 6 da tarde e os dois bebendo de estômago vazio). Mas, eu com toda a minha diplomacia os fiz fazerem as pazes e enfiei um pedaço de salaminho na boca de cada um para amenizar o efeito do álcool.

Assim as pessoas foram indo embora, indo embora, indo embora... E adivinhem?! Por fim só estávamos nós três, a aniversariante e a organizadora do evento, que também era moradora do condomínio onde a festa ocorria. Elas juntaram todas as coisas, conversamos bastante e eu finalmente conheci um pouco mais sobre a Mariana [Nana ou Minduim (porque ela é do tamanho de um amendoim japonês, que tinha na festa)].
Enfim, as meninas já estavam morrendo de sono e olhando pra nós com cara de “Vai embora, gente! Pelo amor de Deus...”

Mas ainda tinha muita cerveja e estávamos todos animadíssimos. O Guilherme inclusive resolveu que iria sair para comprar cigarro (umas 10 da noite), mas a anfitriã disse que de forma alguma o deixaria sair uma hora daquelas e subiu ao apartamento para pegar um cigarro para ele. Para a nossa sorte, a Mariana foi junto e nós nos olhamos simultaneamente e falamos juntos: “Tô morrendo de fome!!!” E então alguém deu a ideia de procurarmos os petiscos que já estavam guardados na cozinha. Abrindo o freezer, a única coisa que encontramos foram dois recipientes enormes que estavam com patê de milho e o outro de alho. Bêbados como estávamos, não pensamos duas vezes... Comemos o patê todo (na mão) enquanto as meninas não voltavam. Quando elas chegaram nós estávamos com um bafo tão horrível de alho que despedimos delas e fomos embora (analisando as músicas da Marina Lima pela rua: “Qual o sentido e Eu tô grávida de um liquidificador??? Quaaaal? Nenhum!!!!” Dizia o Guilherme).

sábado, 20 de outubro de 2012

E o Rio de Janeiro, continua lindo?

Comecei a escrever esta postagem em minhas férias do ano passado quando ia levar comigo meu sobrinho, o Caio, para conhecer a cidade maravilhosa. Como a primeira vez a gente nunca esquece, me lembrei de quando tinha 12 anos e minha mãe inventou que iríamos passar o natal na casa de uns familiares dela no Rio de Janeiro.

Na época ela era casada com meu pai e ele sempre detestou a idéia de ir ao Rio por medo de ser sorteado com uma bala perdida. Então iríamos minha mãe, minha irmã (com 6 anos na época) e eu. Ficamos todas alvoroçadas, pois havia muitos anos que minha mãe não via seus familiares, eu tinha ido a praia uma vez só na vida, aos 6 anos e minha irmã nunca tinha visto o mar.

Me lembro muito bem das compras: Eu ganhei uma mochila e um brick game, minha irmã ganhou alguma coisa e um brick game e minha mãe comprou todas as bugingangas que estavam a seu alcance. Depois de todos os preparativos, partimos num ônibus de Itabira às 19hs para chegar às 7 da manhã no Rio sem saber que estávamos partindo para uma aventura bem no estilo Indiana Jones.

Primeiramente, minha irmã ia toda hora ao banheiro e em uma dessas idas prendeu o dedo na porta, coitada...Quase teve o dedo decepado. Ela chorava tanto, mas tanto, que ninguém mais conseguia dormir no ônibus! Quando conseguiu parar de chorar minha mãe a fez dormir e a viagem prosseguiu normalmente. Não sei se alguém já passou por isso, mas ir de ônibus de Itabira para o Rio é um desespero! O ônibus passa por Monlevade, Mariana, Ponte Nova e umas outras 357 cidades. Por fim, minha mãe arrumou umas amizades no ônibus com uma senhora e sua filha que não paravam de conversar. Segundo elas, Ponte Nova era a última parada antes de chegar no Rio.

Como minha mãe era fumante na época, estava ficando irritada já de tanta vontade de fumar. E as donas falando, falando, falando... Eu não conseguia dormir, até que chegamos em Ponte Nova e descemos para minha mãe fumar enquanto as donas foram ao banheiro. Após tragar toda a nicotina do universo, minha mãe foi ao banheiro, fez o que tinha que fazer e ficou lá retocando sua maquiagem, aproveitando para retocar a maquiagem das donas também. Eu, incomodada com aquela demora indaguei:
_Mãe, o ônibus vai deixar a gente pra trás, anda logo!
E ela com toda a sua educação alternativa respondeu:
_Ih menina, não me responde não!!!!Claro que o motorista não vai deixar passageiro nenhum pra trás! E cala a boca!

Chovia muito nesta noite e quando voltamos ao estacionamento, o ônibus não estava mais no local da parada. Todo mundo sem saber o que fazer e eu falando internamente: "Eu falei, eu falei!"
Enquanto isso donas começaram a chorar desesperadamente, tipo aquelas viúvas na beirada da cova do marido que colocam a mão na cabeça e berram: ME LEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEVA!!! Minha mãe, um pouco mais racional, as mandou calarem a boca, solicitou um táxi e quase vinte minutos depois alcançamos o ônibus. Não me lembro exatamente o valor do táxi, mas foi um valor altíssimo e as donas queriam que minha mãe pagasse sozinha:
_Nossa, a gente não tem dinheiro não... Nosso dinheiro está contadinho pra pagar a passagem de volta!
Minha mãe: "Poblema é seus!!! Se não fosse eu vocês iam ficar lá na rodoviária! Se vira e pede dinheiro emprestado pros seus parentes pra vocês voltarem!" Nem precisa dizer que a amizade linda acabou aí, né...

Chegando ao Rio, fazia um calor maldito de 40º que me deixou intoxicada. Ficamos na casa de uma tia lá pros lados de Miguel Couto e íamos à praia de Copacabana numa mobilização que parecia uma excursão.
Foram as melhores férias da minha vida: Nessa época conheci um gatinho lá pelo qual me apaixonei (platonicamente, para variar)... Resolvi descer uma ladeira enorme de uns 150m de patins e desci várias vezes lindamente, só que quando chamei meus primos para verem meu feito radical, cai no meio do morro e fui ralando no asfalto até o fim dele... Fui ao maracanã ver o Flamengo jogar... Saí para caçar rã com meus primos... Tive que presenciar minha mãe passar Coca Cola no corpo pra se bronzear toda vez que íamos à praia... Vi pela primeira vez uma travesti (com uma peruca estupenda e saltos plataforma maravilhosos) na Avenida Atlânticao e fiquei alucinadíssima...  Conheci todos os parentes e perdi meu brick game.

O mais interessante foi que minha mãe gastou o dinheiro dela todo e tivemos que depender do meu pai enviar dinheiro para irmos embora. Isso fez com que eu voltasse às aulas um mês depois das férias terem acabado, com sotaque carioca e torcedora do Flamengo. Meu pai (atleticano doente) quis morrer!

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Confissão de Itabirana




Esta semana estive desfrutando meus últimos dias de férias em Itabira. Logo ao chegar, fui acometida por uma amigdalite que me deixou por três dias prostrada no sofá da sala assistindo TV e navegando pela internet simultaneamente. Ontem, como acordei melhor e retornaria para Belo Horizonte à tarde, resolvi levantar cedo e acompanhar minha mãe em sua caminhada matinal. Saímos de casa às 9:40 da manhã, debaixo de um sol escaldante que já me deixou estressada, mas eu estava disposta a usufruir da companhia dela, uma vez que ela não para em casa e mal a vi durante os dias em que lá estive.

 Primeiramente fizemos exercícios naqueles aparelhos para a terceira idade ao lado da estação ferroviária. Confesso que eu estava sem paciência, pois quanto mais exercícios fazíamos, mais quente o tempo ficava. Mas segurei minha rabugice (que anda exagerada ultimamente) e esperei paciente(mente) até que ele terminasse todos os 300 aparelhos para darmos início à nossa caminhada. Juro que pensei que morreria naquele sol_ já me sentia o próprio Josias, personagem de Rachel de Queiroz em O Quinze, que durante a fuga desesperada de sua família da seca nordestina morreu no meio do caminho_ quando depois de 5 minutos de caminhada minha mãe resolve entrar num supermercado para comprar água. Como ela conhece metade da cidade, já imaginei que nossa caminhada terminaria por alí, pois até ela cumprimentar todos os transeuntes e funcionários do supermercado já seria meio dia.

 E confirmando minha suspeita ela cumprimentou uma senhora e disse: _Olha Deise alí oh! A senhora, muito simpática acenou surpresa com  meu tamanho (e largura, pois estou de férias) e disse:_Tá me cumprimentando, mas aposto que nem lembra quem eu sou, né?! (Particularmente, eu já sofri bastante com isso. Sempre me preocupava em ser a simpatia em pessoa, dizendo que sim, mesmo que não me lembrasse. Mas hoje em dia, na rabugice dos meus pré 30 anos, simplesmente respondo: Não, não lembro).

O caso estaria encerrado se fosse verdade, mas fatalmente eu me lembrava daquela senhora e muito me envergonhava disso. Enquanto eu me embrenhava pelas prateleiras do supermercado para que ela não mais me avistasse, fui me lembrando detalhadamente de um dia, quando eu tinha uns 10 anos e minha mãe inventou de levar minha irmã e eu em uma excursão para Itambé do Mato Dentro, a cidade que mais amávamos devido a sua riqueza de suas cachoeiras. 

Nesta época o casamento dos meus pais já não passava de (como diz Drummond) um retrato na parede e não sei por que cargas d'água meu pai não iria conosco e não se disponibilizou a nos levar até o ponto de partida da excursão. Devido a esta falta de cooperação dele, tivemos que dormir na casa desta senhora, a organizadora da viagem, pois o ônibus sairia muito cedo. Me lembro que ela e minha mãe tomavam cerveja, conversavam e faziam os quitutes para levarmos para o evento enquanto eu, endiabrada que só eu conseguia ser, revirava todo o quarto do filho da senhora. Achei vários carrinhos, soldadinhos e algo que muito me brilhou os olhos: Um pote de GELÉINHA! Aquilo foi a glória para mim... A geléinha e os óculos-canudo do Chaves fazem parte da lista das coisas que eu mais quis ter na infância e nunca tive. Juntamente com carrinho de rolimã, mesa de totó, arma de chumbinho e outras coisas. Voltando à geléinha, fiquei quietinha brincando com aquela gosma fedorenta por uns bons 40 minutos, até perceber que ela não fazia nada do que diz na propaganda: "Faça um balão, faça um monstrinho, todas as cores, é só escolher pra combinar!".

Revoltada com a propaganda enganosa, larguei a gosma (que já não tinha cor, pois eu havia misturado três cores diferentes) no sofá da simpática senhora. Quando percebi, vi que estava tudo grudado e imediatamente guardei dois potes do brinquedo, mas faltava um.  Tinha quebra cabeça, livro, um monte de coisas espalhadas pela sala e eu comecei a me desesperar à procura da gosma perdida. Quando por fim a encontrei, ela estava total e completamente grudada no tapete da sala. O primeiro pensamento de todos: Minha mãe vai me matar! Eu tentava tirar aquilo de cima do tapete chiquérrimo, diga-se de passagem, já quase sufocada com meu próprio choro engolido, mas foi em vão. Ficou uma enorme mancha e para que eu não fosse pega, fui até a cozinha e disse que estava com sono e queria dormir.

Quando a senhora disse que arrumaria a cama do filho dela, que estava de férias sei la onde, eu disse que estava com medo de dormir no quarto e pedi para colocar o colchão na sala. Assim o fiz. Claro, o coloquei sobre o tapete e tive vários pesadelos com a geléinha monstro correndo atrás de mim, o tapete falando comigo e etc. No dia seguinte fui a última a levantar. Dessa forma, ninguém viu. E se não me viram fazendo, não poderiam me acusar jamais!

Mas ao ver a senhora no supermercado ontem, acabei me acusando. Não posso fazer 30 anos com essa culpa na consciência, né... Pois bem, senhora gentil... Fui eu. Me desculpe, pois não tinha a intenção... Só não venha me cobrar outro tapete pois o crime já prescreveu, ok?!

quarta-feira, 9 de maio de 2012

De amor não se morre



Há pessoas que garantem já ter visto a morte de perto
E outras vão um pouco mais
Dizem até mesmo ter chegado ao além 
E conseguido voltar para trás

Você já ouviu falar de alguém que tenha morrido de amor?
Nem eu. Se morre de tudo nesse mundo
Mas de amor não se morre
Se QUASE morre
Se chora e desidrata
Mas ao mesmo tempo lava a alma


Se perde uns quatro quilinhos
Mas aproveite!
Vá a praia mostrar sua nova silhueta
Se dói o peito, e parece que é a hora
Mas não se engane, é a hora exata de se viver

De amor não se morre, se vive
Ja dizia o poeta
Não se morre, não se mata, não se aborrece
Não se abandona, não se diminui

De amor se vive
Se vive, se preenche, se eterniza
Se alegra, se fortalece, se alimenta
Se é de morrer, não é amor.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Cabelo, Cabeleira, Cabeluda, Descabelada!


Cabelo, cabeleira, cabeluda, descabelada

Quem disse que cabelo não sente

Quem disse que cabelo não gosta de pente

Cabelo quando cresce é tempo

Cabelo embaraçado é vento

Cabelo vem lá de dentro

Cabelo é como pensamento

Quem pensa que cabelo é mato

Quem pensa que cabelo é pasto

Cabelo com orgulho é crina

Cilindros de espessura fina

Cabelo quer ficar pra cima

Laquê, fixador, gomalina”


Se tem uma coisa que eu gosto bastante é do meu cabelo. Durante anos da minha vida eu travei uma luta medieval com ele, passando tudo o que se pode imaginar. Desde aquela famosa pasta verde (que pra mim é ácido sulfúrico purinho) até banho de creme com ovo, abacate, babosa e outras iguarias que se não estivessem batidas no liquidificador, eu ficaria parecendo a Carmem Miranda.

Vamos começar lá de trás...

Quando eu nasci, minha mãe percebeu que eu tinha as grandes entradas do meu avô materno e ficou desesperada. Ela fala que fez uma simpatia com gordura de galinha (sim, gordura de galinha. Vê se isso é coisa de passar em um recém –nascido???), passou nas entradas e os cabelos logo nasceram. Uma tia minha, irmã do meu pai (http://deisedepequenininha.blogspot.com/2010/05/o-dia-em-que-fugi-de-casa.html), que presenciou o ato disse a vida inteira que minha mãe usava titica de galinha em meu cabelo, e por isso ele era ruim daquele jeito.

Na escola sempre escutava musiquinhas à respeito, e a que eu mais odiava, tinha pavor, era: “Olha a nega do cabelo duro, que não gosta de pentear. Quando passa na porta do túnel o negão começa a gritar: Pega ela aí, pega ela aí _Pra que? _Pra passar batom _ Que cor? _ De violeta, na boca e na bochecha.” Durante anos essa música foi um grande trauma em minha vida. Com a imaginação fértil que eu tinha, já cheguei até ao ponto de ter um pesadelo onde estava andando em uma rua escura e quando entrava em um túnel, vinha o maldito negão com um batom violeta passar em mim. Foi horrível eu tentando escapar do negão...

Minha mãe sempre contribuindo para as economias da casa, não nos levava ao salão para cortar ou arrumar os cabelos. Uma vez eu me lembro que estava na moda usar franja e todas as meninas da sala tinham cortado seus cabelos. Eu, Deisedepequenininha, nunca me interessei por estar na moda, mas minha mãe é a revista Vogue em pessoa, e me cortou uma franja também. Fiquei simplesmente parecendo um poodle e o povo ria tanto, mas tanto... Que eu chorava todos os dias na escola. Mas não foi só comigo que ela aprontou tentando ser hair stylist, lembro-me que uma vez ela resolveu escurecer o cabelo da minha irmã, que sempre foi mais claro que o meu. Até aí tudo bem, se ela não tivesse usado papel crepom preto para executar sua brilhante ideia! E o pior, ela o fez antes da menina ir para a aula. Resultado: Ligaram da escolinha pedindo minha mãe para busca-la porque o cabelo dela estava verde.

Quando eu estava na adolescência, minha melhor amiga tinha os cabelos lindos, bem longos e pretos , que ela usava sempre em uma grande trança. Eu ficava encantada com os cabelos dela e resolvi deixar o meu crescer também, para usar a tal trança. A diferença era que o cabelo dela era bom e a trança ficava para baixo, já a minha ficava reta, parecendo aquelas máscaras com uma faca enfiada na cabeça.

Assim que cresci um pouco mais, a revolta da minha mãe veio a tona porque meu cabelo era crespo (os cabelos dela sempre foram anelados, mas não crespos. Já meu pai é um negão de 5m_de altura_ como meu cabelo poderia ser liso, senhor?) e então ela resolveu tirar o escorpião do bolso e pagar um salão de beleza (tristeza) para mim todos os sábados de manhã. Imaginem só o meu humor, já que eu estudava no período matutino e sábado, que era o único dia em que eu podia dormir até um pouco mais tarde, tinha que levantar cedo para ir ao salão.

Nada contra quem frequenta ou quem é proprietário de um salão, mas para mim não há neste mundo um lugar mais torturante: 50 mil mulheres falando ao mesmo tempo!! Enfim, odeio ir ao salão de beleza, mas como minha mãe estava pagando, dei adeus ao sono matinal dos sábados por quase 2 anos. Logo depois voltei a usar o bom e velho Black!

Agora que estou praticamente uma senhora beirando os 30 não dou conta mais de me levantar e me ver de black power todos os dias e fico imaginando: O que é que eu faço com esse mafuá, gente??? E quando ele ficar branco? Vou ficar parecendo o Don King? Aceito sugestões.


quarta-feira, 6 de julho de 2011

"As muito feias que me desculpem, mas beleza é fundamental."

Já dizia meu Poeta.


Quem me vê hoje em dia com meu corpinho sarado, black power estiloso e rostinho de modelo (dizem), nem imagina o quanto eu era feia até os 20, 21 anos. Sério mesmo, feia igual bater em mãe na ceia de natal!

Não sei o que acontecia... Na infância (até uns 5 anos), me lembro de ser bem bonitinha. Tinha uma bundinha arrebitada (daquelas calcinhas cheias de rendinha atrás de antigamente), coxinhas grossas, cabelo enrroladinho e muita simpatia; afinal de contas eu desfilava no principal carro alegórico do carnaval.

Quando fiz uns 7 anos as coxinhas afinaram, perninhas grossas deram lugar a umas pernas de saracura que de longe pareciam com as pernas dos personagens do quadro Retirantes , do Cândido Portinari. Os cabelos, antes encaracoladinhos, deram lugar a uma coisa inexplicável que os meninos da escola carinhosamente chamavam de bombril, sarará, etc. E quanto mais os anos iam passando, mais feia eu ficava.

Como se não bastasse a feiura, tinha ainda a total ausência de bom senso. Eu sempre inventava de me apaixonar pelos garotos mais bonitos e inalcansáveis da até então pequena cidade de Itabira. E como já citei anteriormente, minha auto confiança é algo quase paranóico! Minha primeira ilusão amorosa se deu aos 5,6 anos. Me apaixonei por um vizinho que devia ter quase 18. Não suportando mais seguir com todo aquele amor repreendido no peito, me declarei a ele e disse que queria me casar. Ele ficou chocado com minha obsessão e nunca mais brincou comigo. E até hoje ele é um dos caras mais cobiçados da cidade... Pelo menos bom gosto eu tinha, né?

A segunda foi com um garoto também do meu bairro, mas que morava numa mansão gigantesca e vivia passeando pelas ruas com seu mini buggy e sua mini moto. Coitada de mim... Até hoje ele não deve nem saber da minha existência. Da terceira vez eu finalmente obtive êxito. Aos 12 anos fiquei com o cara mais cobiçado da escola! Hoje eu entendo porque: Ele é tão feio quanto a fome. E não consigo entender é o fato de que ele namorava a menina mais linda do Premen (que hoje não está muito bem também, coitada)....

A partir de então, foram várias paixonites galopantes que incluíram desde os príncipes que apareciam na escola e que nem conversar com eles eu tinha oportunidade, até uns tipos muito estranhos como o que soprou fumaça de cigarro na minha cara e falou:
Nós vai matá aula lá no bar da esquina, tá afim???
Graças ao bom Deus, minha amissíssima Fernanda não permitiu que eu desse continuação a esse devaneio.

Meu maior sofrimento era no dia dos namorados. Sempre faziam aqueles murais para troca de "Recadinhos do Coração" e eu sempre passava lá na esperança de ter algo para minha pessoa. Obviamente nunca ganhei nada. Até que um dia um cara de estava na escola há mil anos começou com uns gracejos pro meu lado. Minha auto estima estava nas nuvens, até uma carta toda escrita em inglês ele me enviou! Lembro que pedi a  uma vizinha mais velha traduzir pra mim e seu comentário foi o seguinte: "Deise, namora com ele! Ele está apaixonado por você!"
Eu: "Mas ele é muito feio, Ana!"
E ela, com toda a sabedoria do mundo me ensinou: "Homem feio é que é bom, porque mulher nenhuma vai querer tomá-lo de você". Eu tinha um pouco de sabedoria própria e não dei ouvidos, claro!

Dentre todos estes garotos existia um tipinho moreno, do cabelo grandinho e que era filho de uma das professoras da escola. Minha paixonite por ele durou anos mas nunca comentei com ninguém, pois já estava bem grandinha e minhas noções de razoabilidade começavam a aflorar. Eu o olhava de longe, via como era inteligente, educado e mais velho que eu uns 2 ou 3 anos. Finalmente ele formou-se no segundo grau e eu virei a vida do irmão dele, que estudava em minha sala, de cabeça pra baixo a fim de saber seu paradeiro. Tinha se mudado para Belo Horizonte e nunca mais o encontrei.

Um belo dia, há uns 3 anos atrás, fui passar um fim de semana em Itabira e precisava voltar para BH no domingo a tarde. Eis que o encontro na rodoviária: Um deus. Ele simplesmente virou um deus! Os cabelos ainda grandes, uma barba comunista super charmosa e o olhar lindo de sempre, que dessa vez olhou nos meus olhos e deixou um breve cumprimento. Confesso que gelei. E gelei ainda mais ao entrar no ônibus, pois ele não parava de olhar pra mim e eu pensando: "Gente, será que eu to cagada? Tem alguma coisa errada comigo?" E quando enfim achei minha poltrona, era ao seu lado!

Ele, educadíssimo, perguntou se o fato de ele ler um jornal me incomodaría, pois talvez eu estivesse com sono. Claro que não fiz nenhuma objeção. Percebi que ele estava muito inquieto e aquela situação estava me deixando extremamente nervosa. Então ele tirou uma barrinha de cereal da mochila e me ofereceu. Eu recusei e agradeci e então ele aproveitou para puxar conversa:

-Você é daqui de Itabira?
-Sim, sou sim.
-Engraçado, eu nunca te vi!
-Ah, eu me lembro de você...
-Não, não! Eu nunca te vi. De uma mulher linda como você eu me lembraria para o resto da vida se já tivesse visto.

Essas palavras me levaram aos céus! Fui tomada por uma espécie de felicidade extrema e estava me sentindo uma miss universo! Mas como eu sou mulher e toda mulher é bi (BI- ssexual, BI- polar ou BI- scate), minha bipolaridade me levou ao mesmo tempo ao sentimento de revolta. Afinal, foram muitos anos apaixonada por ele, observando-o todos os dias, seguindo todos os seus passos e agora que a vida tem todo um contexto diferente ele me vem com uma cantadinha barata dessas? Era um desaforo!!! E então, com muito sarcasmo dei continuidade à conversa:

-Aaaah, viu sim! Sua mãe é professora, você é irmão de fulano e estudou o segundo grau no Premen, não é?
Ele espantado: - Uai, é sim... Você estudava lá?
-Estudava, na sala de seu irmão.
-Nossa, juro mesmo que nunca te vi lá... Você é muito bonita! Eu deveria ter me lembrado...
-Pois eu vou te contar porque você não se lembra! É porque na época em que estudávamos lá, eu era bem feinha, sabe... Feia, mas feia mesmo!Com força! E um rapaz bonito e interessante como você não tem tempo de reparar nas garotas feinhas, estava sempre em companhia de belas garotas... Mas eu me lembro de você sim, já te mandei vários recadinhos do coração nos murais de dia dos namorados!

Ele sorriu muito sem graça (não sei se estava sem graça de pensar o quanto eu devia ser feia, por ter lembrado o quanto eu era feia, ou por pensar que eu no mínimo, era louca) e imediatamente parou com os gracejos malandros.

Seguimos a viagem conversando sobre várias coisas, inclusive sobre política, e ele se revelou militante do PSOL. Me convidou inclusive para ir a uma reunião do partido, aproveitando o convite para me pedir o número do meu telefone. Ali estava a oportunidade que aguardava desde a adolescência e com a qual sonhei várias vezes. Mas mais uma vez a bipolaridade falou mais alto, lembrei-me de que aquilo era um desaforo e dei o número errado.



terça-feira, 21 de junho de 2011

Mochilão para Raposos

Verão de 2010 (acho que já citei para vocês a minha facinação com esta estação do ano). Eis que consigo tirar minhas tão sonhadas férias no emprego no mês de fevereiro. Queria aproveitar o carnaval, o mar, Itabira e as lindas cachoeiras que só Minas tem.
Logo no primeiro domingo, vésperas do merecido descanso, quebrei tudo num bloco carnavalesco no Santa Tereza.Um cara mais louco que o Batman se apaixonou por mim na fila da cerveja, me mostrou a carta de vinhos do restaurante e perguntou qual vinho eu gostaria de tomar em sua companhia. Sem pestanejar, escolhi o mais caro, achando que aquilo não passava de um lero lero dos mais fajutos. Quando saio da fila, ele me aparece com a garrafa debaixo da blusa e disse que tinha roubado pra gente. Acho que foi a maior prova de amor que já tive de um gênero masculino... A única, se não me engano. De lá fui parar na promoção de verão do Gis Club : Hot Summer, Tudo a R$3,00 (inclusive sua dignidade).

Obviamente eu não estava sozinha nesse domingo "do jeito que o diabo gosta", minhas secretárias do concurso Rainha do Carnaval, Dum e Luíza também faziam parte o programa. Eu fiquei umas 3 horas com uma caipirinha de 3 pedaços de limão, 3 dedos de cachaça e 3 pedras de gelo na mão, de tão ruim que estava. Saimos de lá cada uma mais sem dignidade que a outra, a ponto de eu arrancar uma Espada de São Jorge em um jardim e correr atrás das meninas para bater nelas sei lá por qual motivo. Depois disso dormimos todas em minha casa.
Na segunda-feira (oh glória!), eu estava de férias! Levantamos meio dia, na maior ressaca e enquanto eu fazia o almoço, as secretárias foram comprar cerveja. Nesse intervalo de tempo eu pensava: "Como o dia tá lindo! Tá pedindo tanto uma cachoeira..." Então quando terminamos de almoçar eu tive a brilhante idéia: Vamos pra Raposos?
Luíza: Não, eu tenho que ir pro meu estágio.
Dum: Não, eu tenho que ir trabalhar.
Porém, meu poder de persuasão power acabou por convencê-las: "Gente, cachoeira! Luíza, você não conhece cachoeira! Vamos? Dum, falta ao trabalho! A gente leva uma vodka, compra alguma coisa pra comer, não são nem 30 minutos de ônibus!"

Bastou isso para sairmos feito loucas de casa. Cada uma com um copo de cerveja na mão em direção ao centro de BH para pegarmos o coletivo com destino à cidade de Raposos cantando: "To-tô de férias, tô indo pra Raposos". Luíza aproveitou a ocasião para passar em um lojão e compar um short de banho rosa, que mais parecia papel crepom, por R$4,00. Lindo, imaginem. Quando finalmente chegamos na cidade, depois de uma hora e meia no ônibus e a Dum querendo me matar, já era por volta das 17 horas. Como era horário de verão, tínhamos que nos apressar para conseguirmos tomar um solzinho.

Chegamos na cachoeira (que não era cachoeira, era só esse filete de água da foto),estávamos lá lindas curtindo a água, a vodka e otras cositas más quando Luíza deu um mergulho e o short rosa começou a soltar tinta no rio matando uns 647 peixes. Foi aí um ser humano muito inconveniente apareceu e mudou toda a história.
Primeiro, na companhia de uns 5 outros homens, ele se aproximou de nós e se apresentou como Bodoque. Educadas, demos a ele um sorriso de Monalisa continuando a beber e conversar na beira do rio. Vendo que havia sido esnobado, ele pediu um pouco de vodka e nós, educadas, porém sinceras, dissemos que não. Insistente demais, ele nos convidou para um mergulho e  também recusamos. Então ele começou a nos perturbar, até a hora em que jogou água em mim e minhas secretárias disferiram umas boas dúzias de palavras feias que fizeram com que ele saísse da água extremamente nervoso e embrenhasse mata afora.

Nesse momento, um outro homem que observava toda a confusão se apresentou sobre a alcunha de Vanderley (se não me engano) e iniciou o seguinte diálogo:
_ Gente, cêis são doida? Cêis tiraro o maior patrão da cidade. O Bodoque é o maior patrão da cidade!
Eu fiquei imaginando que ele era o maior patrão da cidade porque o pai devia ter alguma empresa que empregava muita gente, até o Vanderley falar claramente que o cara exercia atividade ilícita e violenta. Ele nos aconselhou a irmos embora e disse que nos levaria pela trilha, pois já estava ficando escuro. Nós ignoramos o conselho e acabamos fazendo amizade com ele, que até de verdade ou consequência ele brincou com a gente.
 
Na hora de ir embora já estávamos mais pra lá do que pra cá. Havíamos tomado uma garrafa de vodka, várias cervejas e não estávamos nem um pouco preocupadas com o perigo. Quando passamos em frente a um bar no final da trilha que levava de volta à cidade e  lá estava o tal Bodoque de moto e cara amarrada. Vendo nossa bela amizade (que parecia de anos) com Vanderley, ele disse: "Coé Vanderley, vai ficar dando idéia pra essas patricinhas tiradas?"
 
Achamos aquilo um baita desrespeito com nosso amigo e para irritá-lo ainda mais, abraçamos o Vanderley e começamos a gritar: "HEY, HEY, HEY, VANDERLEY É NOSSO REI!" O coitado do Vanderley estava morrendo de medo e seguiu para sua residência, nos convidando para ficar lá. Mas como a gente ainda tinha o mínimo de discernimento, paramos em um bar adiante onde as meninas me enganavam falando que estávamos ganhando cerveja. Eu não aguentava mais beber. O dono do bar, um senhor de uns 1800 anos, estava super feliz, pois parecia que não via um cliente há pelo menos uns 1750. Porém, a cara de felicidade dele não era cara de quem estava nos dando cerveja e foi aí que descobri o truque das duas, estabeleci o limite (coisa rara) e fomos embora pra rodoviária. No meio do caminho um carro parou ao nosso lado oferecendo carona, era o Vanderley na companhia de um amigo muito esquisito, mas nós fomos.
 
Chegando na rodoviária, o tal amigo que não me lembro mais o nome viu uma viatura da polícia e começou a se comportar estranhamente. Ele perguntou se não podia nos deixar em um ponto de ônibus na BR, pois tinha que fazer uma entrega e não podia ficar alí. Imediatamente eu disse que não, mas as secretárias loucas adoraram a idéia porque os rapazes disseram que em frente ao ponto de ônibus tinha um posto de gasolina e um bar, onde nos pagariam umas cervejas. Sem que eu tivesse tempo de dizer não novamente,  os dois arrancaram o carro e eu, desesperada, com lágrimas nos olhos, imaginei que alí acabavam minhas férias, meu verão e minha vida.

Brigamos uma com a outra quando percebemos que eles exerciam a mesma atividade do Bodoque. Brigamos com eles, que só faziam rir da nossa cara pra aumentar nosso desespero, até que  finalmente chegamos ao tal ponto de ônibus onde eles realmente pagaram a cerveja e Vanderley se declarou apaixonado pela Dum. No final, disse que nos pegou no meio caminho com medo de o Bodoque nos seguir. Gracinha demais! É uma pena que nunca mais possamos voltar à cidade para visitá-lo.